Eu peço desculpas aos meus leitores, realmente sumi das redes sociais e faz tempo que não atualizo o meu site. Este longo período de reclusão mandatória, por conta da pandemia, tem sido muito importante para mim, hoje sem dúvida, sou um ser humano muito melhor, estranho dar este testemunho no meio do caos mundial, mas é a mais pura verdade. Estou aproveitando este tempo para ler mais, sobre os mais diversos assuntos: religião, filosofia, história, ciência, estou revendo profundamente meus valores, ando tão seletiva sobre minhas prioridades de vida, sobre as pessoas ao meu redor que em certos momentos fico até assustada e me pergunto: Para onde caminha a humanidade?
Resolvi escrever este texto sobre um assunto que conheço a fundo, são 30 anos de bagagem, mercado de luxo no mundo e no Brasil faz parte da minha vida pessoal e profissional. Mas nesse momento tão absurdamente imprevisível, faço um panorama da situação do mercado de moda para finalizar num ponto muito mais profundo e importante, os valores do ser humano.
A empresa de consultoria McKinsey & Company, referência mundial quando se trata de mercado de luxo, em parceria com o BOF (Business of Fashion), atualizou a sua versão do State of Fashion, fazendo um importante estudo do impacto do coronavírus na indústria da moda global. O estudo aborda o atual momento de disrupção no mercado econômico que bateu forte na moda, assim como outros segmentos de luxo, como hotelaria, gastronomia, entretenimento, beleza, arte. Todas as estratégias planejadas para 2020 passaram a ser obsoletas. Segundo a pesquisa, já havia uma grande transformação em curso, certamente acelerada pelo advento da pandemia.
Consequências graves já estão batendo numa das maiores indústrias do mundo, a moda gerava US$ 2,5 trilhões em receitas anuais globais antes do coronavírus, implicações como desemprego ou dificuldades financeiras para trabalhadores em toda a cadeia de valor – desde os que trabalham na colheita das fibras usadas na indústria têxtil até os vendedores de lojas e o produto final de moda.
É nos países do chamado terceiro mundo ou mais politicamente correto, mundo em desenvolvimento, onde os sistemas de saúde são precários ou inadequados e a pobreza é abundante, que as pessoas serão mais atingidas. Para os trabalhadores em centros de fornecimento de baixo custo de fabricação, como Índia, Camboja, Etiópia e Honduras, períodos prolongados de paralisação trarão fome e doenças. Mas também em países ricos o pessimismo é generalizado, com 75% dos consumidores nos EUA e na Europa acreditando que sua situação financeira será impactada negativamente por tempo indeterminado.
Outro ponto importante da “quarentena do consumo”é a rapidez de algumas mudanças nos hábitos do consumidor, como uma crescente antipatia em relação aos modelos de negócios produtores de resíduos e a cobrança de ações sustentáveis por parte das marcas, a venda digital sendo opção principal, o design atemporal e o declínio do atacado.
Segundo Luca Solca, analista de investimentos da Bernstein, 2020 deve ser o pior ano da história da indústria moderna. Mesmo com a pandemia controlada, o setor de luxo pode sofrer mais do que outros segmentos, por conta de sua dependência no varejo de viagens (20 a 30% da receita deste segmento é gerada a partir de compras feitas fora dos países de origem dos consumidores), além da alta dependência de lojas de departamento e varejo de rua. Embora a duração da pandemia permaneça incerta, a recuperação provavelmente será gradual. O sentimento do consumidor levou até dois anos para voltar ao normal após crises globais anteriores: a recuperação da pandemia de SARS de 2003, 11 de setembro e a crise financeira de 2008. Velocidade e adaptabilidade são essenciais para esta crise. Mas quando os primeiros sinais de normalidade começam a surgir, as empresas não devem ser complacentes e sim dobrar as medidas de recuperação e resiliência, pois esse será um momento de transformação sem precedentes.
Aproveito esse momento para sair da economia e ir mais profundo, quando voltei da semana de moda de Paris realmente a ficha caiu, comecei a me preocupar com o assunto, deixando meu lado sempre otimista mais quieto e encarar com mais seriedade o momento, por um instinto natural (por ser uma pessoa de muita fé) comecei a me conectar mais com Deus, a ler mais sobre espiritualidade, parei de ouvir os noticiários alarmistas e contraditórios, discursos absurdos de políticos acéfalos, me pautei por uma conduta experiente da OMS e entrei numa viagem dentro de mim mesma. Eu agradeço todos os dias, por ser uma pessoa privilegiada, por estar saudável, pela geladeira abastecida e uma situação financeira estável, estou participando de vários movimentos para ajudar aos menos favorecidos e rezo bastante, mas o inimigo é gigante.
A sensação de impotência perante a pandemia gerou um imenso espaço para o auto-questionamento. No meu isolamento me pergunto se faço algo relevante para o mundo, se realmente estou feliz com o rumo da minha vida pessoal e profissional, adquiri um senso de urgência de assumir uma missão que vá além do sucesso material, uma causa maior. O propósito é o caminho do legado. Propósito sem legado é apenas uma viagem no egocentrismo.
O coronavírus chegou para cobrar das pessoas, das empresas e dos governantes uma revisão de prioridades. Não tenho dúvidas de que a experiência provocada por ele deflagrará novos questionamentos existenciais e humanistas, bem como mudanças de governança política e de modelos econômicos. O momento é de revisão das virtudes da ordem do capital: o individualismo, a acumulação ilimitada, a indiferença face à miséria de milhões, a exaltação do lema do mercado financeiro: “greed is good”- a cobiça é boa. Será? Estamos aprendendo à duras penas que a cobiça e o maior mal da humanidade, trazendo dor e destruição das mais variadas formas.
O coronavírus está alterando o equilíbrio de poder entre as nações, e, conforme pesquisadores, redefinirá os rumos da geopolítica e da economia, pondo fim a um ciclo e inaugurando uma nova ordem mundial. Espero que estejam certos!